quinta-feira, novembro 16, 2006

Sr. Professor!... ups, desculpe... José!

Depois de tanto ter ouvido falar da personalidade que foi entrevistada por Judite de Sousa no passado dia 9 de Novembro, na RTP1, e que não tive oportunidade de ver em directo, decidi ir consultar o site da RTP em busca da entrevista perdida, e lá estava ela nos arquivos da Grande Entrevista, prontinha a ver, basta um click em http://www.rtp.pt/wportal/sites/tv/gde_entrevista/.
O entrevistado foi José Pinto dos Santos, um dos maiores mestres de gestão de empresas, português, professor na maior escola de gestão do mundo, a INSEAD em Paris.
E realmente fiquei deliciada com as coisas que o professor disse…. o professor não,… o José. O José contou-nos, entre outras coisas, que:
- Os estrangeiros consideram-nos um povo simpático, mais simpático que os nuestros hermanos, e que até gostam muito de cá estar, mas que somos muito desorganizados;
- Quando se fala em portugueses, os estrangeiros conhecem o Eusébio, o Figo e o Mourinho;
- Enquanto povo, achamos que somos o que fazemos, e o que fazemos é o que nós somos, ou seja, o meu trabalho sou eu. E quando se diz a uma pessoa que fez algo mal, as pessoas acham verdadeiramente que nós as estamos a criticar a elas, ou seja, uma crítica ao que fazemos acaba por ser uma crítica a nós. Isto não é bom para a nossa vida profissional;
- É contra a permanência nos lugares durante muitos anos, e entende que o mundo seria muito melhor se os dirigentes empresariais não pudessem estar mais do que 10 anos no seu lugar, porque começamos a confundir-nos com o lugar, com a idade não ficamos mais aptos para desafios (muitas vezes ficamos menos), e acabamos por ocupar o lugar como se o lugar fizesse parte de nós, e como se nós tivéssemos raízes, que não temos;
- À pergunta, afinal qual é o problema de Portugal, responde que não temos problema nenhum e que somos óptimos. A nossa cultura não foi feita para as empresas e para os negócios, e os dirigentes têm de ter isso em conta. Nós temos de viver de um modo sensato, de relações afectuosas, e a nossa área de negócio será a que envolver pessoas, e será virada para os serviços;
- Como atributos para se ser um bom dirigente, acha que se deve conhecer as pessoas, conhecer a história, conhecer a realidade, conhecer o mundo e é preciso saber aquilo que se faz, porque a gestão não é uma questão se senso comum;
- Acha que as nossas universidades funcionam muito bem, no ensino, e o que falha é não vermos o que se passa lá fora, e que não devemos fazer coisas que outros sabem fazer e que podem fazer melhor que nós;
- Nós portugueses, somos muito dedicados ao que fazemos, porque o trabalho e nós somos a mesma coisa, mas depois o trabalho é mal feito, as reuniões não começam a horas, etc. Porquê? Porque não somos bem dirigidos;
- Acha que as novas contratações das empresas devem passar por recrutar pessoas das áreas das humanidades, antropólogos, filósofos, porque dentro das empresas deve haver alguém capaz de perceber as pessoas, como pessoas;
- Na era do conhecimento, do saber, não é o valor que se escreve e o que se ensina nas universidades o verdadeiro saber. É o saber que nós temos cá dentro, e que se ganha com o tempo e com a experiência, é um saber importantíssimo, que é privado e que tem muito valor. E nas empresas, há saber que não está nas pessoas, está no ar;
Que grande lição, senhor Professor…. Desculpe… José.

3 comentários:

Anónimo disse...

Só posso dizer uma coisa, magnifico.

FL disse...

O José devia dar uns conselhos ao Belmiro.

cs disse...

Pelo que sei, o José deu mesmo alguns conselhos não só ao Belmiro, mas também a outros dirigentes de grandes multinacionais, numa iniciativa do Presidente da República. Ele não veio a Portugal, única e exclusivamente para ser entrevistado pela Judite de Sousa.